sexta-feira, 16 de junho de 2023

Vagalumes no quintal

 Sentada na porta do quintal observava a imensidão de tudo. "Tudo" esse que corriqueiramente me passa despercebido na aceleração dos novos dias. Enquanto fitava o topo alto da única árvore do meu quintal, eu podia ver as cores hipnotizantes daquele dantesco céu. Levei um tempo a admirar tudo isso. Fim de tarde, tons quentes em um dia tropical úmido, nuvens se mesclavam a paleta de cores que se reinventavam ali, diante de mim, o rosa e laranja daquele dia que se esvaia, se transformando em roxo e azul. Um azul negro, que por sua vez desvelava as luzes da noite, aquelas as quais tão singelas se movem quase que despercebidas dia após dia. Além das estrelas do céu, as estrelas que pairavam no meu quintal. Vagalumes brilhando, pequenos ignorantes de sua tamanha beleza. A brisa que trazia o cheiro do orvalho, o frio da noite, o canto das cigarras, também levava todos os meus devaneios pelo tempo. É preciso escuridão pra enxergarmos além das luzes que criamos, pra sentirmos os detalhes da vida que nos sopra segundo a segundo. Às luzes que compartilham espaço quando o sol se cala e que nos provoca dentro da nossa própria paleta de cores.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Tem um oco me comendo por dentro, tenho olhos pouco atentos, um vazio sedento, ando me desconhecendo.
Minhas vísceras tão em carne viva, mesmo assim parece que sentimento algum me habita. 
Entre nostalgia e anestesia, de empatia à apatia, picos de um sentir tão intenso que me pula do peito e se arremessa pela garganta, mas não saí, me engasga e volta em agonia.
Parece que fui embora e esqueci de me avisar. Vejo pedaços de mim por todo lugar, e penso ainda vale a pena lutar, e acreditar que ainda estou aqui.
Eu me digo seja forte, aguente firme, seja fraca, tudo bem chorar, seja qualquer coisa, mas seja você mulher! Mas essa mulher nem sabe mais o que quer. Eu sigo todos os meus planos de outrora, buscando reencontrar minha alma no meio dessa estrada. Buscando me sentir menos perdida e menos sozinha de mim, quero me sentir em mim. 

sábado, 18 de abril de 2020

Naufrágio.

Mergulhei de cabeça sem saber ao certo quais mistérios habitavam tua grandeza.
Nos repuxos do teu mar me soltei, o calor da tua água-boca desejei. E tu sendo mar me quis no teu peito a transbordar.

Em um eu já coral-são muitas cores-afetos a pulsar, e eu quis em ti me propagar. Como barco que naufraga em tu mar, com destino apenas a ancorar, não me cabia mais em ti flutuar, 

Eram minhas novas cores a te decorar, te fitando os olhos e te compondo o ar.
Tu era canto da sereia a sussurrar no pé do ouvido a me embalar:  
Deixa em mim tuas cores habitar, enquanto os sonhos em nós navegar.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Falta.

Eu visto sorrisos, caminho sozinha.
Me pego pensando em nós dois.
Esqueço de pensar nas inúmeras brigas que nos empurraram até o fim.
Penso... Penso no teu abraço, no quanto eu me sentia segura em te chamar de "meu"... Posse!
Isso não é lá muita coisa perto da beleza de um tal Amor. Sentimento nobre, que ainda não sei se senti ou sinto por você. Peito aperta, cabeça procura uma imagem sua e enaltece a tristeza da falta que você faz. Ah, Maldita mente! Ela escolhe teu melhor sorriso, o melhor sexo, o melhor gesto de carinho, e elege como se tudo fosse apenas esses momentos. E eu? Sinto muito amor! Sinto a falta, sinto a dor, sinto raiva, sinto culpa, sinto o amargo, sinto a flor da ausência, a dor na pele.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Um ensaio sobre o imperfeito e o tornar-se mãe. (Relatos de Memória Mariana Nascimento)

Filho, aqui está escrito algo que um dia quero que vejas! Em meio a tantas mudanças que hoje vivencio, você inspira em mim o sentimento mais próximo do divino que pude chegar, a maior forma de amor que já pude e posso vivenciar! Quero que o que aqui escrevi sirva não de dor para você, mas de exemplo de que eu sua mãe, sou falha. Assim como você um dia será. E que está tudo bem em errar, contanto que você se perceba em meio a tudo, e busque acertar por você, evitando ao máximo magoar as pessoas por não se perceber errando. Tome isso pra si, que o amor seja o seu maior instrumento de mudanças e de crescimento.

Mas nem sempre fui assim. É preciso ter coragem para se desnudar, revelar suas imperfeições. E tenho um propósito com isso... é que ao lerem meu relato, parte de uma história da qual sou sujeita, enxerguem o lado humano da coisa. O lado real. O lado cru, cheio de dores, de erros, de frustrações, ao mesmo tempo cheio de alegria, cumplicidade, parcerias, amor, e afetividades afins. O que venho aqui revelar sobre mim é um apelo, para que as pessoas vivam mais "a flor da pele", se aceitem e sintam tudo, absolutamente tudo que seu "eu" permita sentir. A alma humana não é só bem, ou só mal. Uma pessoa condenada por seus erros, não é só erros. Ela também acerta várias vezes, mas as pessoas costumam não se importar. É aceitando suas falhas que serás capaz de se perdoar, de se permitir mudar o que não deu tão certo, sem culpa e o principal de se amar incondicionalmente. As pessoas que vivem nesse "mundo perfeito das aparências das redes sociais" onde prevalece a foto feliz, as frases de superação, ou de perfeição, são maquiagens do que elas vivem no seu cotidiano. Existe uma busca excessiva pela felicidade constante, mas felicidade é apenas um estado de espírito, ela não é plena, plena só a inalcançável eternidade, e como gostamos de confundir esses conceitos.

Aqui inicio um fragmento de uma história de força, de traumas, de muitas lágrimas, aprendizagens e o principal de muito amor. Devo deixar claro que existem diferenças antagônicas de sentimentos pela gravidez e pelo meu filho.

Descobri que estava grávida aos 4 meses da gestação aos meus 21 anos. Eu tinha acabado de assumir um relacionamento sério com o pai do meu filho. Eu surtei! Foi um susto. Definitivamente não era algo que eu queria, ali com uma pessoa que mal conhecia... não foi planejada, nem esperada.  Como ia ser minha vida a partir dali? Só imaginei as piores possibilidades. Eu estava no meio da minha graduação em História na UFPE (sempre foi um sonho estudar nessa Universidade pública, mas os prazeres e desprazeres disso eu conto em outro momento) e pensei comigo acabou tudo, todos os planos de primeiro alcançar estabilidade financeira, ter minha própria casa e independência, tudo... tudo foi pro ralo (Isso era o que eu pensava). Eu precisava encontrar uma saída praquilo tudo. Não posso dizer que não pensei em não dar continuidade a gestação, mas posso dizer que se hoje meu filho está aqui, é porque eu optei tê-lo, você é fruto de uma escolha sim meu filho e não de um erro. Eu e o pai do meu filho não estávamos prontos para nada do que estava acontecendo. Como pensar? Como agir? O que fazer? Como nos olhar? 

O peso da sociedade nos cobrava demais. A gente se cobrava demais. Mesmo sendo "moderninhos" nos vimos ali, sem maturidade alguma pra saber que não deveríamos ter atropelado etapas, que tudo bem estarmos "grávidos" enquanto namorados, mas a gente não estava entendendo muita coisa. Começamos a passar tanto tempo juntos que em poucas semanas, com a barriga crescendo, a angústia também, ele resolveu que a partir de um momento aleatório nos chamaríamos de casados. Mas na minha cabeça a gente não tinha laços tão fortificados pra isso ainda, não que eu não quisesse ter algo assim tão sério com alguém, é só que eu acreditava que se necessitava de tempo e de muita cumplicidade pra que isso fosse real, e também que fosse em momento feliz. Esse processo foi muito danoso e asfixiou nosso relacionamento, com uma série de traumas e sequelas, mas estávamos tão imersos em tudo que não nos vimos.

Eu escondi a gravidez da minha família durante duas semanas desde que eu havia descoberto. Apesar de uma idade não tão nova, eu me via como uma menina, era vista como uma menina. Essas duas semanas foram os dias mais aflitos que já passei na vida. O medo da rejeição me tomava, somado a não aceitação da gravidez. Eu acreditava que decepcionaria profundamente a minha família, e que eles me rejeitariam. Me torturei dias a fio, nessas construções angustiantes. Até que resolvi contar tudo pra minha mãe, eu estava do lado dela, mas o medo era tanto que decidi contar tudo em um "textão" pelo Whatsapp. Ela visualizou e não me respondeu e nem tocou no assunto até o outro dia. Varei a madrugada surtando de preocupação. No dia seguinte ela me respondeu também pelo Whatsapp que também estava assustada, mas que estava muito feliz pois seria avó, e que uma criança é sinônimo de luz. Eu fiquei muito feliz e também aliviada. Minha família agiu com muita sensibilidade e acolhimento, todos me aceitaram. O apoio da minha família eu já tinha e isso me propiciou uma base emocional. Mas não estabilidade emocional.

Eu continuava com medo da sociedade. Com medo de sofrer discriminação e de ser julgada. Medos reais, e que de fato aconteceram. Eu não aceitava a gravidez, as mudanças no meu corpo. Eu não conseguia pensar ainda em uma vida que não fosse a minha naquele processo. Eram mudanças gigantescas, que fugiam do meu controle e me expunham em meio a cruel sociedade. Passei a andar com roupas cada vez mais folgadas, pra escapar das perguntas discriminatórias seguidas de olhares de recriminação. Devo salientar que não passei por isso sozinha e por isso consegui passar por tudo, mesmo que sofrendo. Minha família já citada, meu companheiro na época, meus amigos mais próximos, todos estavam comigo, me blindando do peso da sociedade. Foi uma gravidez saudável, mas não foi uma gravidez fácil. Eu não a aceitei até o último instante. E eu me culpava demais por ver que eu tinha todo o apoio que eu precisava, tinha uma vida dentro de mim e nem aquilo me tocava, eu tentava... mas não conseguia aceitar aquela gravidez. Disfarcei a gravidez até os 7 meses da gestação, com roupas largas.

Sempre tive complexo com o meu corpo e baixa auto-estima, por não possuir parte do meu dedo indicador da mão direita, fruto de um acidente sofrido aos 3 anos de idade e do qual quase fui a óbito, também era taxada de feia por estar sempre acima do peso e ter cabelo crespo. Cresci sofrendo bullying e rejeição por parte de muitos colegas na escola e nas brincadeiras de rua. Isso me feriu muito, me tornou uma pessoa insegura e com medo de exposições, eu era uma pessoa calada e costumava andar com a mão direita fechada, eu acreditava que assim me livraria do preconceito das pessoas, e também dos olhares de "anormalidade" que as pessoas depositavam sempre que viam a minha mão. Aprendi a me "adaptar" a sociedade, eu agia como uma pessoa dentro dos padrões, mas na minha cabeça ser normal não era algo que eu acreditava ser. Depois de ter superado essa fase, veio uma nova.

Voltar a lidar com esses sentimentos na gravidez, agora pela própria gravidez não foi fácil. Antes eu costumava esconder a minha mão direita e tava tudo certo. Agora eu não tinha como esconder uma barriga, e quanto mais ela crescia, mais eu me aflingia. Mais as pessoas falavam frases maldosas e mais me machucavam. Eu me sentia invadida, violada, desrespeitada. Mas engolia calada, ou com um "sorriso amarelo" pra disfarçar o constrangimento. Quem vê minhas fotos nas redes sociais feitas em um lindo ensaio fotográfico, nem imaginam que aquelas fotos representam uma libertação, uma exposição proposital, fruto de um processo de aceitação já no fim da gravidez.

Era chegada a hora do parto, e eu havia criado a expectativa de que o parto normal era o que deveria ser feito, que eu estaria sendo uma "mãe emancipada" tendo um parto normal, que seria simples assim, era só escolher e tudo seria "mágico". Cheguei a 42 semana de gestação, e não sentia nenhuma dor de parto. Fui para a emergência de um hospital público de referência do Recife. Ao chegar lá foi constatado que meu filho estava com taquicardia e era necessário fazer um parto cesariano às pressas. O choque foi tão grande quanto quando eu descobri a gravidez. Mais uma vez tudo fugia do meu controle, e eu tinha que aceitar aquela circunstância. Naquele momento fiquei frustrada, desapontada, mas a vida do meu filho era mais importante. Outro fator que me fez ficar calma durante esse processo de parto, foi saber que finalmente a gravidez ia acabar. Eu estaria livre do meu corpo exposto. Eu estava aliviada, ao mesmo passo que  estava assustada com a experiência de me tornar mãe. Eu imaginava que assim que eu ouvisse o chorinho do meu filho e batesse o olho nele, já me sentiria mãe. Mas não foi bem assim. Ali eu descobri que não é inato ser mãe, você torna-se mãe, é uma construção. Saber disso me ajudou muito.

A cada novo dia juntinho do meu filho, o amor só crescia, a culpa diminuía, o mau que sofri com a gravidez ficava para trás e em seu lugar só crescia o amor por meu filho, a vontade de proteger, de cuidar. O sinônimo de amor encontrei nele. Ele mesmo tão pequeno me mostra porque veio, que só a presença dele já é minha cura, me inspira luz e me faz forte. Eu boba tinha medo de ter um filho, pois achava que ia ter que abrir mão dos meus sonhos, eu achava que não ia mais conseguir terminar a Universidade, e que teria que cuidar de alguém e criar alguém e que eu não seria capaz disso.

Na verdade eu não crio o meu filho, ele me cria enquanto mãe e enquanto amor. Ele me recria, ele me cuida, me ama e me aceita como sou. Ele me enche de encanto, me faz sentir a pessoa mais bonita que existe e me dá forças de superar os momentos mais sombrios pelos quais passo. Por ele quero ser luz, me faço luz e prego o amor que aprendo com ele. Faço da minha vida o melhor que posso ser, e se não puder ser ainda, lutarei para alcançar. Faço de mim o exemplo do que quero pra ele. Dou as pessoas apenas o que eu gostaria de receber e aprendo nas relações humanas, que diante de tanta maldade o amor prevalece, se você alimenta ele acima de tudo dentro de ti.

Sigo com vários novos planos, tô terminando o curso de História, não é fácil, mas estamos chegando ao fim. Meu filho não atrapalha, me faz ser persistente. Tenho uma família que me dá muito apoio, que fica com ele nos momentos que preciso sair pra estudar e trabalhar. Só tenho mais força hoje. E aqui fica um recado, apesar de palavras tão bonitas, nada aqui é perfeito, tudo aqui tem dor, tem amor, tem raiva, tristeza, tem alegria, tem frustração, tem satisfação, tem gratidão, tem imperfeição, tem vida. Vida que se faz nesses movimentos que se dão em meio aos sentimentos, sentir é vida. Equilibrar se faz o básico pra sobreviver e superar. E tudo bem as pessoas serem imperfeitas. Não as julgue apenas porque elas tem limitações e não conseguem atender a todas as suas expectativas, comece não julgando a si mesmo, se aceitando, se respeitando e nunca deixando o ego lhe dominar com suas falsas promessas, você não é melhor e nem pior que ninguém.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Ingrata posse!

A tua posse me consome. Me inibe. Eu mulher, deixo-me assim levar por teu ingrato sentimento, teu jeito tosco de dizer que ama. Contagiante desespero, infame sentimento ciumento. Guarda -me numa gaveta, amedrontado que outros me vejam. Talvez não perceba o limite que te cabe da minha liberdade. A certeza que não vou embora já não te basta, nunca bastou. Não há disfarce na tua insegurança, no teu desejo de que eu não escoe por entre teus dedos. A tua loucura me nega, me projeta, me castra, me reseta. Podias conter-se com o meu amor, e a certeza de que honro cada compromisso do qual me visto. Mas queres também minhas asas, tiras meu sossego. Me ocupo a mente indagando por que não confias. Ousa pouco decifrar-me e exita em acreditar que posso ser tua caso eu deseje, e que assim desejo. Preferes o poder, tentas a sorte de subestimar minha honestidade, e me oferece calabouço trajado de palácio.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Desresumindo o meu "Eu te amo "

Se eu pudesse desresumir o "Eu te amo"...

Eu te diria o quanto gosto do calor do teu corpo envolto no meu nas noites frias entre os cobertores.

Eu te diria que adoro o jeito que você demonstra querer estar perto de mim.

Te diria que mesmo detestando quando você não me responde, sempre fico surpresa ao você repetir o que falei seguido de resposta só pra me garantir de que estou sendo ouvida.

Diria o quanto adoro te olhar na rua, imaginando como te olharia se não te conhecesse e ao mesmo tempo como formamos um par que combina. 

Diria também que admiro essa tua essência, de sonhador , que ao mesmo tempo não recua da luta.

Eu te diria que adoro ser sua ajudante na cozinha, por te achar sexy quando está nela e te axho o dono de um tempero sem igual.

Eu te diria que gosto de como segura minha mão e faz questão de me deixar segura em ser a única dos teus olhos.

Diria tantas coisas que não cabem em um "Eu te amo", não cabe nem em nós... Quem dirá no dicionário inteiro?